
Henrique Pizzolato, condenado no mensalão e agora procurado
pela Interpol, disputou o governo do estado em 1990. Ficou em quarto lugar
criticando os corruptos
Corria o último debate do primeiro turno da campanha para governador do
Paraná, em 1990, quando um azarão resolveu colocar o favorito contra a parede. O
candidato do PT queria que José Carlos Martinez, do mesmo PRN de Fernando
Collor, listasse cinco afastados por corrupção no governo do então presidente.
Sem conseguir uma resposta, o petista baixou a lista para quatro, três, dois –
até que ofereceu um Fusca zero quilômetro se o oponente apresentasse pelo menos
um nome.
A lembrança não veio e, pela postura, o autor da pergunta virou a zebra do
debate, transmitido ao vivo pela TV Paranaense (atual RPC). Mas quem era o tal
questionador? Henrique Pizzolato, que duas décadas depois foi condenado a 12
anos e 7 meses de prisão no julgamento do mensalão por, entre outros crimes,
corrupção passiva.
Pizzolato, que deveria começar a cumprir a pena em regime fechado na última
sexta-feira, fugiu para a Itália e ontem entrou para a lista de procurados da
Interpol (a polícia internacional). Lembrado em Brasília como o influente
diretor de marketing do Banco do Brasil durante o primeiro mandato da gestão
Lula, ele nasceu em Concórdia (SC), mas construiu carreira sindical e política
no Paraná. Radicado em Toledo, no Oeste, concorreu à prefeitura duas vezes (1988
e 1992), sem sucesso, e ocupou a presidência da CUT do Paraná entre 1989 e
1991.
Funcionário de carreira do Banco do Brasil, Pizzolato subiu no PT graças à
atuação como sindicalista. “A conjuntura econômica do país nos anos 1980
praticamente impunha às categorias que negociassem reajustes de três em três
meses. E os bancários eram referência nessa luta”, lembra o deputado federal
Ângelo Vanhoni (PT), ex-vice-presidente do Sindicato dos Bancários de
Curitiba.
Em 1990, no entanto, não era ele o favorito do partido para disputar o
Palácio Iguaçu, mas sim Claus Germer, professor da UFPR que em 1988 havia
disputado – e também perdido – a prefeitura de Curitiba. Esse e outros vários
episódios da campanha, inclusive a história do debate na TV Paranaense, estão
descritos no livro Os Anos Heroicos: o Partido dos Trabalhadores do Paraná do
nascimento até 1990, do jornalista e militante petista Roberto Elias Salomão. “O
Pizzolato não era uma invenção, um simples sindicalista de Toledo, mas um nome
em ascensão. Já o partido nem de longe tinha a estrutura que tem hoje”, diz
Salomão.
Nas duas disputas anteriores para governador, os candidatos do PT fizeram
votações inexpressivas – Edésio Passos somou 12.047 votos em 1982; e Emanuel
Appel teve 51.187 votos em 1986. Pizzolato só se viabilizou como candidato em
1990 após um confronto interno com o então vereador de Londrina Luiz Eduardo
Cheida. De acordo com o livro de Salomão, pesou a favor do sindicalista o apoio
de Gilberto Carvalho, que na época já era próximo de Lula e hoje ocupa a
Secretaria-Geral da Presidência.
“Ele [Pizzolato] era um cara talentoso, bom de argumentação, que discutia
filosofia e sempre que se posicionava citava algo de um grande pensador”, lembra
Jorge Samek, candidato a governador pelo PT na eleição seguinte, em 1994, e
atual diretor-geral da hidrelétrica de Itaipu. Na propaganda de televisão,
Pizzolato chamava atenção pelo uso de crianças e pelo tom de revolta dos
discursos.
Se não chegou a empolgar a maioria do eleitorado paranaense, a participação
de Pizzolato pelo menos cumpriu as expectativas do PT. Com 192.497 votos (6,13%
do total), ele chegou em quarto lugar no primeiro turno da eleição, que acabou
sendo vencida por Roberto Requião (PMDB). Apesar disso, o PT conseguiu eleger
três deputados estaduais e, pela primeira vez, três federais – incluindo o
também bancário e atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
Destinos cruzados
A trajetória de Martinez, alvo de Pizzolato no debate eleitoral de 1990,
acabou se cruzando com a do petista outra vez em Brasília no caso do mensalão.
Depois de perder a eleição de 1990, Martinez virou deputado federal e, como
presidente do PTB, foi citado como uma das peças-chaves do mesmo mensalão que
levou à condenação do petista. Martinez, porém, não foi julgamento por ter
morrido em uma acidente aéreo.
Linha do tempo
Como foi a trajetória de Henrique Pizzolato:
• 1952 – Nasce em Concórdia, no Oeste de Santa Catarina.
• 1988 – Candidato pelo PT a prefeito de Toledo, no Oeste do Paraná. Fica em
terceiro lugar, com 1.851 votos.
• 1989 – É eleito presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná
(CUT-PR), após carreira no Sindicato dos Bancários.
• 1990 – Concorre a governador do Paraná pelo PT. Faz 192.497 votos (6,13%
dos válidos) e fica em quarto lugar no primeiro turno, atrás de José Carlos
Martinez (PRN), Roberto Requião (PMDB) e José Richa (PSDB).
• 1992 – Concorre pela segunda vez a prefeito de Toledo. Repete o terceiro
lugar de 1988, com 4.021 votos. No mesmo ano, é eleito representante dos
trabalhadores no conselho de administração do Banco do Brasil.
• 2003 – Depois de virar diretor do Previ, bilionário fundo de pensões dos
funcionários do Banco do Brasil, é escolhido para ser diretor de marketing do
Banco do Brasil na gestão Lula. No cargo, teria liberado repasse de R$ 73,8
milhões, por meio da Visanet, para a DNA Propaganda, empresa de Marcos Valério,
operador do mensalão. Também recebeu R$ 336 mil do “valerioduto”, que diz ter
repassado ao PT.
• 2012 – É condenado no julgamento do mensalão a 12 anos e 7 meses de prisão,
em regime fechado, pelos crimes de peculato, formação de quadrilha e corrupção
passiva.
• 2013 – Tem a execução da pena decretada no dia 15 de novembro. Antes disso,
porém, foge para a Itália